sábado, 27 de março de 2010

o verão se foi

O verão se foi.
Guardamos nossas pranchas, bermudas e pipas. Hora de correr pelas ruas com cata-ventos, pular os bancos e brincar de Jedi com os galhos que caem das árvores na Praça Pôr-do-Sol. Não há mais sol, querida; não há mais o teu reflexo ou seus cachinhos de criança pela janela olhando a gente voltar da praia com os chinelos nas mãos.
Essa molecada suja, pobre com suas pranchas de isopor de supermercado que voltam domingo à noite num ônibus capenga com os amigos.
Na casa, os pais preocupados. Outros nem tanto.
Uma vez quase morri naquelas águas, nesse fim de verão.
Imaginei a morte embaixo das águas e o que eu não veria mais.
Meu papagaio velho preso no poleiro, na minha mãe-pai-irmão e bonequinhos de plástico.
O verão, Belmont.
O verão de 64, 77, 84, 00, 07 e os que virão.
Entra, lembrança! Tem um copo de cerveja com espuminha te esperando!
Uma lembrança de mãos dadas, de casal que anda de mãos dadas pela praia na chuva, um filme velho gravado numa fita cassette, um olhar para o mundo dentro da roda-gigante...
O homem de verdade atravessa tudo isso aguardando a solidão sem medo, que nem o moleque cruza os olhos para aquela janela e nunca mais vê aquela garota.

sábado, 6 de março de 2010

clark

As mesmas palavras todos os santos dias que não são santos.
Basta dizer que todas as vezes em que nos encontramos eu sentia que algo estava para ser dito, mas jamais era; e a gente ficava assim, meio que sem dizer nada. Olhando um pro outro que nem "filme bobo de romance sábado à noite".
Não foi fácil dizer que não queria mais aqueles momentos, até porque nem sabia direito o que aquilo significava: eu abdicava de um amor para escolher viver sozinho, na minha fortaleza, lugar onde os meus pais descansam agora.
Deixei de ser homem por ela, agora deixo de ser um para ela.
São fardos que o homem carrega, mas eu não sou bem um deles, mas aqui é o meu lugar e o céu que devo proteger. Conseqüentemente vou aprendendo.
Não nos vemos mais no trabalho, passo os dias amedrontado desejando nunca mais vê-la.
Impossível.
Deveria deixar o emprego também. Porque preciso trabalhar?Por quê??