segunda-feira, 29 de setembro de 2008

um sorriso gótico volta nas madrugas...

Sim,depois de 2 meses o podcast 404 na fita está de volta.
E dessa vez, carregando o legado das trevas:só som gótico !
E mais :temos Kabrunco (meu parceiro no crime) em sua primeira aparição (os fãs dele irão ter orgasmos... ) ,zumbis e uma frase que não sairá da sua cabeça tão cedo...
E,
Volta ,Madame Satã!!!!!!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

kurt,1959

Buddy Holly era um velho amigo meu no tocador de discos.
Eu não conhecia Ritchie Valens pessoalmente, mas o seu som entrou pelo rádio do meu Porsche Spyder uma noite quando voltava da faculdade e no dia seguinte já estava em casa acompanhando o velho Buddy.
Big Bopper era uma lenda naquela época: você era considerado um retardado primata se não tivesse ouvido o seu set interminável de músicas na rádio durante cinco dias! Ele até emagreceu por causa disso.
Eu estava lá e ouvi o equivalente a uns dois dias de programação, fiz parte daquilo.Meu neto me perguntou outro dia e eu esbocei um sorriso tolo, como se tivesse esperado a minha vida toda para dizer aquilo.
Eles morreram num pequeno avião. Numa moeda atirada para o céu. Todos eles eram muito jovens. Se não morressem, outros tomariam o seu lugar, pois dizem que o avião caiu depois de quase uns 3 minutos...
Não foi exatamente um bom dia para se voar no céu.
Três lendas mortas numa só tacada do destino e dos elementos. Quando soubemos do ocorrido, nos reunimos no campo de futebol da Universidade e tocamos as músicas deles pelos alto-falantes dos corredores. Timmy era o nosso DJ e tomou a rádio à força e eu fui o seu cúmplice. Tomamos vinho no campus e beijamos as garotas ao som de "Lonesome Tears". Era a nossa desculpa e elas nos consolavam, adoravam jovens mortos como todos nós.
Uma noite inteira no campus só nossa. A polícia chegou e prendeu todos. Depois de 2 horas nos soltaram: o pai de Loraine era o melhor advogado de L. A, e alegou que "os jovens estavam sobre o estresse de uma perda irreparável na música americana".
Nos livraram de tudo. Eu me senti rebelde e os caras também.
Eu só me lembrei disso porque uma noite vi no noticiário que um tal de Kurt Cobain tinha estourado os miolos em um quarto escuro. Ele era um ídolo para a molecada e sua banda era famosíssima pelo mundo afora.
E eu nunca tinha ouvido falar.
Minha mãe não sabia quem era Buddy também; o meu pai - que era xerife da polícia aposentado - achava aquilo (o rock`n roll) um caminho para a homossexualidade que não tinha mais volta. Eu achava aquilo estranho, pois aqueles nomes estavam em todos os lugares. Achava os meus pais alienados, mortos por dentro numa negação de um tempo inútil que se ergueu por força e eles não tinham controle algum.
Mas eu não sabia quem era Kurt também...
Se você me perguntasse o que eu comi no jantar de ontem no Jimmy´s eu saberia te responder por que eu sempre peço o maravilhoso bacon com ovo frito que a Sra O´toole faz todos os dias, há mais de 20 anos. Mas eu não saberia te dizer o que a minha velha Maggie fez ontem em casa.
Eu não saberia te dizer nem que dia é hoje! Porque diabos eu haveria de saber da banda de Kurt!
Mas porque isso me chateia? Porque me lembrei daquela noite com uma certa vergonha de mim mesmo?Uma autocondenação sofrível de se sentir miserável me tomou, e eu era o mais pobre diabo na face da terra.
Por quê?
Acho que chegou o dia em que me tornei papai, me tornei mamãe...

Buddy e os outros morreram ao fazer uma aposta de lugares. Jogaram uma moeda para o ar.
Que eu saiba, não havia jogado moeda nenhuma para o alto até agora .Não apostei nada, mas perdi alguma coisa no meio do caminho entre uma altura vertiginosa. Certamente.
E isso foi tão rápido, que nem me dei conta.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

going underground
















Some people might say my life is in a rut,
But I'm quite happy with what I got
People might say that I should strive for more,
But I'm so happy I can't see the point.
Somethings happening here today
A show of strength with your boy's brigade and,
I'm so happy and you're so kind
You want more money - of course I don't mind
To buy nuclear textbooks for atomic crimes
And the public gets what the public wants
But I want nothing this society's got -
 

I'm going underground, (going underground)
Well the brass bands play and feet start to pound
Going underground, (going underground)
Well let the boys all sing and the boys all shout for tomorrow
 

Some people might get some pleasure out of hate
Me, I've enough already on my plate
People might need some tension to relax
[Me?] I'm too busy dodging between the flak
What you see is what you get
You've made your bed, you better lie in it
You choose your leaders and place your trust
As their lies put you down and their promises rust
You'll see kidney machines replaced by rockets and guns
And the public wants what the public gets
But I don't get what this society wants
 

I'm going underground, (going underground)
Well the brass bands play and feet start to pound
Going underground, (going underground)
[So] let the boys all sing and the boys all shout for tomorrow
We talk and we talk until my head explodes
I turn on the news and my body froze
The braying sheep on my TV screen
Make this boy shout, make this boy scream! 

Going underground, I'm going underground!
                                                                      THE JAM 

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

o gumitado (lobo III)

Comecei a sentir umas palpitações numa certa noite do mês passado.Apertava o peito como se fosse explodir.Alguns caninos pareciam ficar maiores nessas horas, doía muito a minha boca.Sangrava.Gosto de vômito chegava na língua e voltava.
Medo da transformação.
Comprei a vodka mais vagabunda no supermercado.
Ironicamente, ela tinha um husky bem lupino no label.Guardei a garrafa para uma ocasião maldita e especial e ela chegou no mês passado.
Durante toda a tarde assisti a tv falando dos estranhos assassinatos e mutilações ocorrendo no bairro do Butantã: tinha entrado numa nóia brava e não conseguia pisar para fora de casa.Não atendia mais o telefone.Procurei na net as notícias, fatos e pistas sobre os meus crimes.
Me senti mal pra caralho.
Todas as minhas vítimas eram garotas.Lindíssimas.Algumas voltavam da faculdade, chegavam tarde pela Raposo; outras eram trabalhadoras: uma trabalhava numa farmácia, outra numa loja de conveniência...
Porque todas eram mulheres?Terei eu me tornado num lobisomem-gay?
Depois de parar para pensar muito e fritar a porra do meu cérebro, pensei que o prazer da morte em frenesi e destruição sem sentido devia ser uma coisa perversamente sexual.
Seria estranho morder o tórax definido de um cara que lê Men´s Health, mesmo para um lobo com sangue no olhar...
Por isso o “meu lobo” matava as mulheres?Mordia profundamente ela no meio das pernas.Mordia a nuca, agarrava alguns cabelos por causa da força absurda, as garras cortavam as bundas.Os jornais pensavam em estiletes e citavam o “Maníaco do Butantã”.Aparentemente o tal “maníaco” não violentava, mas a natureza da violência era toda sexual.
Cenas horríveis.Eu não via mais sentido em continuar com isso.
Bebi a garrafa toda.
E me joguei na cama.
Acordei ainda na madruga.De susto.Já era quase dia.Minha boca doía muito.
Devia estar com febre porque acordei suando muito.O corpo todo meio úmido.
Quando acendi a luz, vi a cama toda ensopada e com um cheiro forte; eu não estava com febre, tinha vomitado na cama inteira vodka Baikal.Vomitei dormindo, aquele vômito seco levemente ocre de bebida, aquele gosto de Nicholas Cage morrendo em Las Vegas.

Não havia comida: somente a bebida transparente lupina, nenhum arrozinho , fandangos/fofura ou dogão do Carioca da Usp...
E numa parte da cama, uma concentração enorme de álcool empapava o colchão, algo da vomitada parecia ter “escorregado” para fora da cama.Fiquei com medo que tinha me transformado e assassinado o meu cachorro.Terror.

Direcionei a luz para o chão e tinha “algo” ali.E numa voz embriagada eu descobri com terror o que era:
-Você bebe muito!Já te disseram isso?
Deixei cair a luz no chão e caguei no pau de medo.Lá estava a pequena criatura deitada e esparramada com os seus bracinhos ridículos e finos; tinha um nariz enorme, não tinha cabelo e estava se cobrindo com a minha camisa do Ramones.Eu poderia jurar que era alguma coisa que o Angeli poderia ter desenhado, por que aquela porra de narigão bizarro era muito do traço dele!!
Todo babado e molhado tentava se mover ,mas caia como bêbado quando se apoiava.
Eu tremia.A luz focou no corpo quando caiu.Ele disse de um jeito irônico e divertido:
-Qual é!O senhor Lobão do Butantã com medo de um merdinha que nem eu!
O medo se juntou à raiva.Combinação perigosa.O porra tinha um leve sotaque carioca.
-Que que você sabe disso?
-Calma, Lobão: eu tô mais bêbado que você , cumpadi e...
Olhou para a garrafa de vodka do husky.
-...Nuossa!Quatro real esse veneno?Se lascar, ”meu”!Eu que agüento tudo depois.
Deu uma ênfase irônica ao nosso jeito de falar de Gotham.
Peguei um travesseiro e ameacei levantar.
-Hahaha!Você vai me matar com travesseiradas, Lobão?
-Para de chamar assim, caralho!
Meu cachorro levantou com o susto.Observou aquela porra esparramada lá no chão.Tava curioso: a boca tremia como se fosse morder, algo raro no meu sabujo que não era de treta.
-Pega!
-N-n-n-n..não !Por favor, senhor sabujo.
Cobria os bracinhos ridículos que pareciam ossinhos de frango que a gente rói com os dentes; com medo do meu cachorro ;tremia de medo e frio .
Mas ele começou a lamber o merdinha.
-Hahaha!Olha, Lobão!Ele gostou de mim!Devia começar a acreditar em instintos animais...
Olhou para mim com um sorriso sacana:
-Ah!Eu esqueci que você já tem um!!!!Hahahahah!!!
Eu tive que admitir que o bostinha tinha um sarcasmo digno da família.O que era aquela porra?Meu filho??Como sabia que eu era um monstro??
Aquilo saiu de dentro de mim!?
E...
Che cazzo!!
Ele era carioca???

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

o alzheimer de todos nós

Giz de cera.
Lembrei da palavra que me parecia tão engraçada quando pivete: crayon.Tinha uma caixa deles comigo quando criança.
Era uma caixa toda espalhafatosa com desenhos de casinhas ,solzinhos e nuvens na embalagem ; dava a idéia de que uma criança era a autora da arte.Tava escrito "crayon" do lado da caixinha!
E eu me lembro perfeitamente da caixa!Dos desenhos que fiz num sulfite de tarde na escola .Do comercial da Faber Castel...
Me lembro de tanta coisa, que vivo às vezes só para lembrar : daquele desenho antigo que ninguém lembrava na roda de boteco ,do show que eu assisti há muito tempo,do que os meus amigos lembraram ontem por mim e daquela mina que existe na minha cabeça.Me pergunto se é normal lembrar de tanta coisa .Ultimamente tenho tido uns lapsos,coisa de noiado mesmo :falam comigo "lembra do que a professora falou?" e na minha cabeça aparece aquele "Now Loading" bem rapidinho .Uma imagem de um disco girando bem rapidinho.
E lembro com algum atraso.
Lembro que esse texto tinha algum propósito ,mas esqueci.
Me veio a imagem do estojo de crayons tão nítida na minha mente que eu tropecei no meu silêncio pra chegar rápido nessas teclas e escrever.Bater na máquina com raiva,escrever pra caralho.Eu me lembrei de algo e esbocei um sorriso .Morri na praia com alguma idéia olhando pra mim,se debatendo triste na palma das minhas mãos.Desapontada.
Às vezes essas coisas passam na cabeça da gente .E lá está você, dando um sorriso andando por aí ou numa fila que não anda mais.
Acho que quis escrever para não esquecer mais.
É...
Acho que foi isso.